Segunda-feira, 21 fev 2011 - 07h42
Tyche: Cientistas tentam provar planeta
gigante no Sistema Solar
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Em 1999, uma dupla de pesquisadores constatou que diversos cometas
observados apresentavam fortes desvios em relação às órbitas calculadas.
Segundo eles, isso seria provocado pela atração gravitacional de um planeta
quatro vezes maior que Júpiter, escondido dentro do Sistema Solar. Eles
batizaram esse grande objeto de Tyche.
Na ocasião, John Matese e Daniel Whitmire, ligados à Universidade de
Lousiana-Lafayette, publicaram um artigo propondo que somente a presença de um
objeto de grande massa no interior da nuvem de Oort - uma hipotética região
circular localizada a quase um ano-luz do Sol - poderia explicar as anomalias
observadas no caminho dos cometas provenientes daquele local.
Segundo os cientistas, devido ao brilho muito tênue e temperatura muito
baixa, a existência de Tyche só poderia ser comprovada através de imagens no
espectro infravermelho que registrassem aquela região específica e apostaram
suas fichas nas imagens que seriam geradas pelo telescópio espacial WISE, a ser
lançado em 2009.
Recentemente, devido à divulgação de parte de dados do telescópio WISE,
a teoria de Matese e Whitmire voltou a ser alvo de especulações, já que a
agência espacial americana, NASA, confirmou que a primeira parte dos dados
coletados será divulgada em abril de 2011 e a segunda etapa em março de 2012.
"Existem fortes evidências de que existe um grande objeto naquela
região", disse Mantese. "O padrão de desvio na órbita de alguns
cometas persiste. É possível que seja apenas uma casualidade estatística, mas
essa probabilidade diminuiu à medida que temos mais dados acumulados nos
últimos 10 anos", disse o cientista.
Mantese explica que a quantidade de dados gerados pelo telescópio é
imensa e que "garimpar" o banco de dados pode levar bastante tempo.
"Não temos uma previsão ao certo. Talvez dois ou três anos até
encontrarmos alguma coisa, mas se o objeto realmente estiver ali, vamos
achá-lo."
Caso Tyche realmente exista, de acordo com a dupla de astrofísicos ele
se localizaria a 2.25 trilhões de quilômetros de distância. Seria um objeto
gasoso e teria um período de translação ao redor de 1.7 milhão de anos.
Corrente
Contrária
Apesar de Matese e Whitmire estarem bastante confiantes na localização do hipotético planeta, nem todos os astrofísicos concordam com a teoria.
"Entendo que o novo trabalho esteja sustentado em muito mais dados
que antigamente, mas baseado no trabalho anterior acredito que as estatísticas
estão incorretas", disse Hal Levison, cientista planetário ligado ao
Instituto de Pesquisas do Sudoeste, no Colorado e autor de recente estudo
publicado sobre a nuvem de Oort.
No entender de Levison, o que Matese e Whitmire estão vendo é um sinal
muito sutil. "Não tenho certeza que esse desvio nas estatísticas seja
significativo e provocado por um planeta com quatro vezes a massa de Júpiter.
Não tenho nada contra a ideia, mas acredito que as estatísticas não estão sendo
feitas corretamente", disse o astrofísico.
Outro cientista que se contrapõe aos argumentos a favor da existência de
Tyche é Matthew Holman, pesquisador do Instituo Harvard Smithsonian de
Astrofísica, que estuda há muitos anos os cometas vindos da nuvem de Oort.
"Já encontrei várias assinaturas de perturbações orbitais naquela
região, mas isso não é suficiente para afirmar que existe um objeto de grandes
dimensões capaz de afetar a órbita dos cometas na nuvem de Oort", disse
Holman.
Nêmesis
Em 1980, pesquisadores estadunidenses passaram a especular sobre a possibilidade do Sol ter uma companheira, o que tornaria o Sistema Solar um sistema binário de estrelas. Essa hipotética companheira foi batizada de Nêmesis.
De acordo com a hipótese, Nêmesis seria uma estrela anã marrom, pequena
e escura, com órbita centenas ou milhares de vezes mais distante que a de
Plutão e levaria pelo menos 26 milhões de anos para completar uma revolução ao
redor do Sol. No entanto, a ausência de um campo gravitacional que marcasse sua
presença fez com que sua possibilidade permanecesse apenas teórica.
Em novembro de 2003, a descoberta do planeta-anão Sedna fez a hipótese da
existência de Nêmesis ganhar fôlego. Segundo Mike Brown, descobridor do
planeta-anão, Sedna está onde não deveria e não há como explicar sua órbita. No
entender de Brown, Sedna nunca está próximo o suficiente para ser afetado pelo
Sol e também nunca está longe o bastante para ser influenciado por outras
estrelas.
Esses fatos reforçaram ainda mais a hipótese da existência de Nêmesis,
que teria entre 3 e 5 massas jupterianas. Com esse tamanho, Nêmesis também não
seria observável no espectro visível, mas brilharia intensamente no comprimento
de onda do infravermelho e seria possivelmente detectável pelo telescópio
espacial Wise.
Lançado em dezembro de 2009 com o objetivo de mapear 99% do céu no
espectro infravermelho, o telescópio já fez inúmeras descobertas de objetos
celestes, entre eles 20 novos cometas.
Durante a missão, o telescópio produziu nada menos que 1.5 milhões de
imagens que agora serão estudadas minuciosamente. Se a hipótese de Matese e
Whitmire estiver correta, Júpiter perderá seu posto de maior planeta do Sistema
Solar e o Sol poderá não será mais uma estrela solitária.