22 de jan. de 2012

THE WAR OF THE WORLDS

por Rodrigo Portillo
www.1up.net.br


A GUERRA DOS MUNDOS E O CONCEITO DE DESIGN

Não me canso de dar exemplos de que o design é a mistura de forma e função. Deve ser feito como uma extensão da idéia ou do objetivo alcançado. O exemplo que eu gostaria de dar hoje vem de um romance escrito há mais de 100 anos, de 1898 para ser mais exato.
A Guerra dos Mundos é um romance de ficção científica escrito por Herbert George Wells, muito famoso em sua época, é lembrado até hoje por causa da conhecida dramatização de rádio que gerou pânico em alguns lugares. Entretanto, pouco é lembrado por sua crítica e contextos históricos. Quando lançado, A Guerra dos Mundos criticava o poder mundial que então era da Inglaterra, mostrando que sempre pode haver uma força maior e que todos as grandes potências podem ser subjugadas. O mesmo aconteceu com a dramatização cinematográfica, em 1953, criticando a agora potência mundial, EUA, e a Guerra Fria.


Conceitos históricos a parte, uma questão esquecida do livro de Wells, em parte lembrada (apesar de que mal explorada) na versão de 2005, de Steve Spielberg, é o Design dos alienígenas e dos Tripods.
Diferente dos filmes, os alienígenas de Wells são criaturas semelhantes a polvos, com largos tentáculos que lhes davam a vantagem de operar vários equipamentos simultaneamente. Até então, as pessoas não imaginavam o design orgânico. Os produtos, equipamentos, máquinas e outros, não possuíam uma característica natural. No entanto, os tripods, as máquinas onde os marcianos andavam tinham 3 pernas, muito diferente da ideia de espaçonaves que temos hoje. Esses membros eram flexíveis e se dobravam de forma semelhante a uma mangueira. A máquina ainda usava tentáculos gigantes para segurar os seres-humanos e outros grandes objetos que lhes interessavam. Os tripods se assemelhavam a seus utilizadores, funcionando como uma extensão de seus corpos e tendo um design de fácil reconhecimento e operação de seus ocupantes.
Apesar de ter raios mortais, os tripods também soltavam um gás escuro, que, pela a descrição de Wells, se assemelha muito àquele líquido preto que o polvo usa para se defender.

Explicando o Design de Wells

Quando H. G. Wells idealizou A Guerra dos Mundos, precisou se preocupar bastante com os tripods, eles seriam o elemento chave para que causasse medo e terror, além do questionamento, para os leitores. Os tripods foram criados para ter uma assimilação orgânica com seus operadores. Assim como no design para seres-humanos, os objetos precisam ser práticos e se adequar as necessidades da natureza humana para poder ser mais óbvio e fácil de se manusear. A semelhança dos equipamentos com os seus ocupantes é um ótimo exemplo de desenvolvimento do design humano. Geralmente, o design de um artefato deve ser feito para gerar um reconhecimento do usuário com algo existente ou de uma forma que funcione como a extensão do corpo. O filme de 1953 mudou a ideia de tripos, introduzindo naves espaciais, porém ainda usa o design orgânico, pouco semelhante a uma máquina convencional humana. Se pararmos para pensar, todos os inventos tendem a se parecer com criaturas ou artefatos naturais, como os helicópteros, aviões, carros, a ideia é baseado na nossa natureza, o mesmo teria acontecido com os alienígenas de A Guerra dos Mundos, os seus equipamentos seriam semelhantes à natureza que eles conhecem. 

A Ficção Científica e o Design

Os romances antigos, em especial os de ficção científica, mostram as expectativas dos designs futuristas e nos dá uma ideia do que as pessoas costumam crer como formas eternas. Talvez as obras de Julio Verne sejam os melhores exemplos de design para o desenvolvimento de boas histórias. Em antigos filmes e séries, como Perdidos no Espaço ou Jornada nas Estrelas, podemos ver elementos de um local futuro, porém mantendo características de sua época, como cabelos, estilos, roupas e principalmente o design dos equipamentos. Filmes antigos são interessantes para um designer entender a evolução da forma e função humana, notar que os projetos dependem das funções que são necessárias ou que acredita-se que serão necessárias. Laranja Mecânica, Da Terra a Lua, De Volta Para o Futuro, além do próprio A Guerra dos Mundos são bons exemplos.


Concluindo

Todo mundo da área de design costuma ver imagens, analisar formas, mas poucos tem o costume de analisar o objeto através da leitura. Autores de romance precisam descrever bem as cenas e objetos de uma forma com que a história seja plausível, no mínimo aceitável para a mente humana. Todo o escritor de ficção precisa ser um bom designer e o bom designer pode aprender muito com escritores.