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A GUERRA DOS MUNDOS E O
CONCEITO DE DESIGN
Não
me canso de dar exemplos de que o design é a mistura de forma e função. Deve
ser feito como uma extensão da idéia ou do objetivo alcançado. O exemplo que eu
gostaria de dar hoje vem de um romance escrito há mais de 100 anos, de 1898
para ser mais exato.
A
Guerra dos Mundos é um romance de ficção científica escrito por Herbert George Wells,
muito famoso em sua época, é lembrado até hoje por causa da conhecida
dramatização de rádio que gerou pânico em alguns lugares. Entretanto, pouco é
lembrado por sua crítica e contextos históricos. Quando lançado, A Guerra dos
Mundos criticava o poder mundial que então era da Inglaterra, mostrando que
sempre pode haver uma força maior e que todos as grandes potências podem
ser subjugadas. O mesmo aconteceu com a dramatização cinematográfica, em
1953, criticando a agora potência mundial, EUA, e a Guerra Fria.
Conceitos
históricos a parte, uma questão esquecida do livro de Wells, em parte lembrada
(apesar de que mal explorada) na versão de 2005, de Steve Spielberg, é o Design
dos alienígenas e dos Tripods.
Diferente
dos filmes, os alienígenas de Wells são criaturas semelhantes a polvos, com
largos tentáculos que lhes davam a vantagem de operar vários equipamentos
simultaneamente. Até então, as pessoas não imaginavam o design orgânico. Os
produtos, equipamentos, máquinas e outros,
não possuíam uma característica natural. No entanto, os
tripods, as máquinas onde os marcianos andavam tinham 3 pernas, muito diferente
da ideia de espaçonaves que temos hoje. Esses membros eram flexíveis e se
dobravam de forma semelhante a uma mangueira. A máquina ainda usava tentáculos
gigantes para segurar os seres-humanos e outros grandes objetos que lhes
interessavam. Os tripods se assemelhavam a seus utilizadores, funcionando como
uma extensão de seus corpos e tendo um design de fácil reconhecimento e
operação de seus ocupantes.
Apesar
de ter raios mortais, os tripods também soltavam um gás escuro, que, pela a
descrição de Wells, se assemelha muito àquele líquido preto que o polvo usa
para se defender.
Explicando o Design de Wells
Quando
H. G. Wells idealizou A Guerra dos Mundos, precisou se preocupar bastante com
os tripods, eles seriam o elemento chave para que causasse medo e terror, além
do questionamento, para os leitores. Os tripods foram criados para ter uma
assimilação orgânica com seus operadores. Assim como no design para
seres-humanos, os objetos precisam ser práticos e se adequar as necessidades da
natureza humana para poder ser mais óbvio e fácil de se manusear. A semelhança
dos equipamentos com os seus ocupantes é um ótimo exemplo de desenvolvimento do
design humano. Geralmente, o design de um artefato deve ser feito para
gerar um reconhecimento do usuário com algo existente ou de uma forma que
funcione como a extensão do corpo. O filme de 1953 mudou a ideia de tripos,
introduzindo naves espaciais, porém ainda usa o design orgânico, pouco
semelhante a uma máquina convencional humana. Se pararmos para pensar, todos os
inventos tendem a se parecer com criaturas ou artefatos naturais, como os
helicópteros, aviões, carros, a ideia é baseado na nossa natureza, o mesmo
teria acontecido com os alienígenas de A Guerra dos Mundos, os seus
equipamentos seriam semelhantes à natureza que eles conhecem.
A Ficção Científica e o Design
Os
romances antigos, em especial os de ficção científica, mostram as expectativas
dos designs futuristas e nos dá uma ideia do que as pessoas costumam crer como
formas eternas. Talvez as obras de Julio Verne sejam os melhores exemplos de
design para o desenvolvimento de boas histórias. Em antigos filmes e séries,
como Perdidos no Espaço ou Jornada nas Estrelas, podemos ver elementos de um
local futuro, porém mantendo características de sua época, como cabelos,
estilos, roupas e principalmente o design dos equipamentos. Filmes antigos são
interessantes para um designer entender a evolução da forma e função humana,
notar que os projetos dependem das funções que são necessárias ou que
acredita-se que serão necessárias. Laranja Mecânica, Da Terra a Lua, De Volta
Para o Futuro, além do próprio A Guerra dos Mundos são bons exemplos.
Concluindo
Todo
mundo da área de design costuma ver imagens, analisar formas, mas poucos tem o
costume de analisar o objeto através da leitura. Autores de romance precisam
descrever bem as cenas e objetos de uma forma com que a história seja
plausível, no mínimo aceitável para a mente humana. Todo o escritor de ficção
precisa ser um bom designer e o bom designer pode
aprender muito com escritores.